Muito se fala sobre as responsabilidades dos
pastores em relação às suas ovelhas. Entretanto, quase nenhuma ênfase é dada ao
que a Bíblia diz sobre os
deveres das ovelhas em relação ao seu pastor. Esses deveres, porém, existem e
podem ser resumidos em três palavras: sujeição, consideração e sustento.
Os dias atuais são marcados por uma verdadeira crise no campo da
autoridade. O homem moderno perdeu qualquer noção de obediência a indivíduos
legitimamente investidos no poder (2Pe 2.10). Por isso, quando
se fala em sujeição, certo desconforto se insinua no coração das pessoas como
se essa palavra evocasse apenas noções de opressão, privação de liberdade,
tirania e manipulação egoísta.
Contudo, goste ou não, o cristão de verdade deve encarar o fato de que a Bíblia exige que os servos de Deus se
sujeitem às autoridades que o Senhor estabeleceu, sejam os governadores e seus
representantes no âmbito estatal (Rm 13.1-7; Tt 3.1;
1Pe 2.13,14), os maridos e pais na esfera familiar (Ef 5.22-24; 6.1,2; 1Pe 3.1) e os ministros de Cristo no
contexto eclesiástico (At 20.28; Ef 4.11,12; 1Pe 5.1-3).
Porém, ocorre que, assim como o cristão mundano não se importa em
obedecer a autoridade civil e a esposa com mentalidade secular não aceita
submeter-se ao marido, da mesma forma, crentes comuns, movidos por conceitos
antibíblicos, opõem resistência ao ensino apostólico acerca da obediência ao
líder da igreja.
A Escritura, porém, é clara e
coloca sobre o crente o dever de se sujeitar ao seu pastor. É óbvio que essa
obediência não deve ser cega, disposta a acolher ordens tolas, insensatas ou
injustas. Há líderes maus que emitem comandos errados e até perversos como era o
caso de Diótrefes, mencionado em 3João
1.9,10. Obedecer a líderes assim é contribuir para a deterioração da igreja e
trabalhar para o enfraquecimento da causa do Mestre. Por isso, diante de
situações em que a ordem do pastor tem claramente o potencial de gerar
prejuízos, o crente deve expor com brandura os motivos porque não pretende
fazer o que foi ordenado, ajudando o líder a enxergar os perigos que sua ordem
encerra e fazendo isso sem provocar atritos. Em situações normais, porém, a
sujeição dos membros ao pastor deve ser branda e marcada por prontidão. O texto
bíblico que mais claramente encerra esse dever imposto às ovelhas encontra-se
emHebreus 13.17: “Obedeçam aos seus
líderes e submetam-se à autoridade deles. Eles cuidam de vocês como quem deve prestar
contas. Obedeçam-lhes para que o trabalho deles seja uma alegria e não um peso,
pois isso não seria proveitoso para vocês”.
De acordo com o texto citado, os crentes devem obedecer ao seu pastor
porque eles cuidam do rebanho como alguém que terá que dar explicações a Deus
acerca do modo como realizou suas tarefas. A noção presente no texto grego é de
um cuidado constante e sem descanso (agrypnéo). Assim, parece
que uma das bases que dá ao pastor suporte para exigir obediência das ovelhas é
precisamente seu trabalho contínuo de proteção, vigilância e amparo em prol
daqueles que lhe foram confiados. Dessa forma, quanto mais o pastor demonstrar
cuidado do rebanho, mais será merecedor de obediência.
O texto diz ainda que a obediência dos crentes fará com que o pastor
realize seu trabalho com alegria e não com gemidos (stenázo). Com efeito, nada tortura, desanima e entristece mais o ministro
eclesiástico do que a postura rebelde de alguns membros de sua igreja que
insistem em desprezar suas ordens, fazendo-lhe oposição. O autor de Hebreus mostra que essa atitude faz com que o
trabalho pastoral se torne um peso e, segundo ele, isso trará prejuízos ao
rebanho.
Sem dúvida, esses danos ocorrerão porque o pastor que vê seu ministério
como um fardo fará tudo sem ânimo ou entusiasmo, preparará suas mensagens com
má vontade, perderá a alegria e o vigor na busca dos alvos da igreja, não terá
forças para sustentar os feridos (uma vez que ele mesmo estará ferido) e,
sentindo-se frustrado e abatido, logo pensará em desistir de tudo. Com certeza,
produzir esses sentimentos no líder da igreja não será, de modo nenhum,
proveitoso para o povo de Deus.
Consideração ou apreço são palavras que se aplicam ao segundo dever que
os membros da igreja de Deus devem ter em relação ao seu pastor. A base bíblica
para esse ensino se encontra em 1Tessalonicenses 5.12,13: “Agora lhes pedimos, irmãos, que tenham consideração para com
os que se esforçam no trabalho entre vocês, que os lideram no Senhor e os
aconselham. Tenham-nos na mais alta estima, com amor, por causa do trabalho
deles. Vivam em paz uns com os outros”.
O texto supracitado afirma primeiramente que os crentes devem ter
consideração para com seus líderes eclesiásticos. O verbo que Paulo usa aqui (oida) significa, basicamente, conhecer. Porém, quando o
contexto exige, esse termo adquire o sentido de respeitar,
reconhecer, destacar ou mostrar interesse.
Na prática, Paulo está dizendo que os crentes não devem agir com descaso
ou ser indiferentes diante da figura do pastor e, para reforçar isso, ele
acrescenta: “Tenham-nos na mais alta
estima, com amor”. A construção grega dessa frase pode ser traduzida da seguinte maneira:
“Considerem-nos como altamente merecedores de amor”.
A razão pela qual os pastores devem ser tidos em tão grande apreço não
repousa sobre seus possíveis dotes intelectuais, nem sobre seu ocasional
magnetismo pessoal, nem mesmo sobre a simpatia que eventualmente demonstrem no
trato com as pessoas. Ainda que essas coisas sejam importantes, os crentes não
devem fazer delas a causa do seu respeito pelo pastor. Segundo Paulo, a
consideração devida aos ministros da Palavra deve ser tributada
a eles por causa do trabalho que realizam.
Assim, no tocante a esse assunto, é secundário se o pastor é jovem ou
velho, pobre ou rico, imponente ou acanhado, animado ou melancólico, genial ou
um homem comum. Tampouco importa se sua origem, aparência ou personalidade nos
agradam. A consideração e estima devidas ao pastor têm como causa o trabalho
nobre e santo que ele realiza. Esse é o fator primordial que o torna digno de
respeito e o faz merecedor da amizade e da simpatia dos membros da igreja.
Nesse ponto, porém, uma ressalva se faz necessária. A consideração
devida ao pastor não deve ser do tipo que silencia diante de suas falhas e
desvios. Isso se depreende, por exemplo, de 1Timóteo
5.19: “Não aceite acusação contra
um presbítero se não for apoiada por duas ou três testemunhas”. Essa
passagem mostra, primeiramente, que os pastores são denunciáveis, ou seja, são
passíveis de acusação quando praticam o mal. Isso deixa claro que tratar o
pastor com apreço não significa colocá-lo acima da verdade e da justiça,
fazendo vistas grossas diante dos seus desvios. Aliás, o texto vai além e
ensina que os pastores estão sujeitos até mesmo à repreensão pública (1Tm 5.20). Porém, a consideração devida aos presbíteros é demonstrada também
aqui na proibição de aceitar gratuitamente e sem provas qualquer acusação que
lhes for dirigida.
Paulo sabia que, na defesa da verdade e da pureza da igreja, o pastor
despertaria o ódio de cruéis inimigos que não poupariam esforços para atacá-lo,
caluniá-lo e, enfim, destrui-lo. Por isso, colocou em sua volta um muro de
proteção, proibindo que o ministro do evangelho seja punido sem que existam
provas seguras de sua culpa. Observar essa diretriz com cuidado é também uma
forma de revelar consideração pelo homem de Deus que está à frente de uma
igreja.
O último dever do crente em relação ao seu pastor é no campo do
sustento. Esse assunto já foi tratado no artigo intitulado O que todo membro de igreja deveria saber, bastando aqui
recordar que os presbíteros que lideram bem a igreja e que se afadigam no
ensino daPalavra são merecedores de um salário adequado (1Tm 5.17-20), sendo cada membro da igreja responsável por prover os recursos que
deverão compor o sustento material do ministro do evangelho.
Concluindo essas reflexões, as questões que devem ser levantadas são:
que tipo de ovelha tenho sido em face do pastor que Deus colocou em minha vida?
Como tenho me desincumbido dos deveres que o próprio Senhor deposita sobre meus
ombros em relação ao líder da igreja à qual pertenço? A resposta a essas
perguntas revelará se você é fonte de alegrias ou de preocupações para os
bispos que o Espírito Santo constituiu e pôs à frente do povo eleito.
Pr. Marcos Granconato
Soli Deo gloria
Soli Deo gloria
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